A chave

Um caminhante havia dado a volta o mundo procurando a cidade de Deus, pois havia ouvido em sua juventude que essa cidade existia em algum lugar e que poderia entrar nela aquele que encontrasse a entrada.

E ele viu numa tarde, atrás de uma enorme planície, a tal cidade. Tinha que ser ela, pois as medidas das torres e cúpulas, que se esticavam para as nuvens, sobrepassavam todas as construções que o caminhante já vira.

Apesar de haver ainda uma distância bastante grande separando-o de seus desejos, ele continuou andando firmemente até, cambaleando de sono, ver um muro escuro saindo da noite. Um pequeno ponto de luz o havia orientado na última parte do caminho, e ele reconhecia agora que era uma fechadura num enorme portão, de onde saia o raio de luz.

Bateu no portão e uma janelinha foi aberta. Ele pode ver luzes e vultos com asas, que pareciam ir de um lado para o outro.

Um deles debruçou-se para fora da janela, deu-lhe um pão e disse com suave voz angelical:

– Pegue e coma!

Mas o caminhante respondeu:

– Obrigado! Carrego meu alimento comigo e não vim aqui para isto. Mas peço entrada.

A janelinha fechou-se na hora. Na escuridão brilhava somente a luz solitária da fechadura. E o homem disse:

– Não é o portão certo. A entrada deve ser em outro lugar.

E por mais que seus pés doessem, ele começou a andar por muitas horas em volta do muro. Mas sempre que seus olhos viam as linhas de um portão, não havia luz e suas batidas eram em vão.

Por fim, encontrou-se de volta no começo, diante da fechadura iluminada, e outra vez abriu-se a janelinha sobre sua cabeça, ele agora mortalmente esgotado. O vulto angelical dobrou-se sobre ele, ofereceu-lhe o pão e disse com a mesma voz límpida e cândida:

– Pegue e coma!

– Deixe-me entrar! – exclamou ele, chorando. Eu quero entrar é só isso que eu quero!

A janela fechou-se e no seu desespero de morte o homem levantou-se e pôs-se a caminho novamente, batendo nos portões; caminhava, chorava, rezava e praguejava em vão… Lá estava ele no fim outra vez, com o anjo oferecendo-lhe o pão.

Dessa vez ele pegou, pois sua fome era muito grande. E disse, caindo ao pé do muro, já quase dormindo:

– Pois o que o homem quer mais? Um pão da cidade de deus e dormir ao pé do seu muro.

Suas mãos quebraram o pão e de dentro dele caiu à chave que lhe abriu o portão.

Autor desconhecido
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